Crítica | The Zone of Interest


Chocar e incomodar através de algo até então insólito em filmes sobre o Holocausto são algumas escolhas muito visíveis em The Zone of Interest, mas até que ponto isso o torna um bom filme?

Existem diversas formas de analisar, absorver e tentar compreender The Zone of Interest. Mas apenas duas podem ajudar a redimensionar o filme. A primeira é considerar o longa como parte de um segmento — mais narrativo do que estrutural — destinado a tecer um retrato atual do que foi o Holocausto, portanto, um quase-gênero cujo objetivo é este e nenhum outro.

A segunda forma é vislumbrar a obra do diretor Jonathan Glazer na forma de este ser, mais do que um filme sobre o Holocausto, sua visão artística de como, então, buscar expor as múltiplas considerações estéticas, argumentativas, técnicas e ideológicas sobre o extermínio em massa que prevaleceu sob a tutela do terror nazista em meados do século passado.

Todas as palavras e frases citadas acima (vislumbre, visão artística, considerações estéticas, argumentativas, extermínio em massa e século passado) fazem parte do que é The Zone of Interest. Mas em nenhum momento elas se tornam evidentes. É uma jogada interessante, mas longe de ser inusitada: dizer sem realmente dizer.

E talvez este seja o problema. É possível encarar essa omissão proposital e justificá-la como parte da decisão do diretor de fazer suas escolhas, mesmo que sejam bizarras e chocantes. Mas será que a bizarrice e o choque ainda são recursos necessários para impulsionar um filme sobre o Holocausto? Se sua resposta for não: por que isso é feito? E se sua resposta for sim: agora você entende que The Zone of Interest pode não ir muito além do que qualquer outro filme de seu segmento já foi.

E não são as escolhas interessantes de Glazer, tipo o seu espectacular trabalho com o som, que vão mudar o fato de o filme não responder às suas questões contextuais. É um beco sem saída, ou como quando vamos ter uma reunião importante e decidimos não comer nada na intenção de estarmos preparados para enfrentar o assunto.

No final das contas sabemos que para sair do beco sem saída bastava dar ré, e para encarar o assunto da reunião não precisávamos passar fome e que, por fim, The Zone of Interest utiliza o bizarro e o choque porque estes podem ser os meios mais oportunos, dada a sua competência, para descrever e apontar algo já bastante referenciado pelo cinema.


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