Crítica | Afire


Por toda parte, para onde olhar, até onde a vista alcança: chamas.

tensão em torno de Afire pode ser, até certo ponto, influenciada pelo sexo e pelo gênero, mas o seu combustível na verdade é outro. Christian Petzold entende que, de lá pra cá, a representação da masculinidade no cinema precisou se adaptar de acordo com a dispersão da equidade como representação das mudanças sociais dentro e fora dos filmes.

É por isso que a insegurança, e mesmo a estupidez de Leon, interpretado por Thomas Schubert, é tão astuciosamente retratada, que o seu seguimento não teria de ser outro, no contexto geral, senão as próprias alterações climáticas. É por meio disso que a tensão presente em Afire nada mais é do que a chama que, a qualquer momento, pode consumir tudo.

Seria um erro notar que o diretor não aproveita esse fato para valorizar seu texto que rivaliza homens e mulheres para fazê-los se reconciliar por entre o trágico — afinal, por que discutir, brigar e se opor se no final ninguém pode sobrar pra contar história?

As chamas, dessa forma, são vistas como algo além do descontentamento de Leon com o seu trabalho, de Najda, incrivelmente interpretada por Paula Beer, com Leon e seus chiliques. Não há como parar ou impedir o avanço da tensão que é multiangular, então o que resta são as imprecisões do processo. É o lamento pelo que passou e a contemplação do que está por vir. É lindo.


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